segunda-feira, 12 de julho de 2010

Polícia tucana de Santa Catarina tem um estupro para esclarecer




É por isso que o Daniel Dantas quer calar a internet


por Paulo Henrique Amorim


Dois adolescentes estupraram uma menina de 13 anos em Florianópolis.

Um estuprador é filho do dono da RBS, afiliada da Globo, e manda-chuva da mídia no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

O outro é filho de um delegado de Polícia de Florianópolis.

Um deles já confessou o crime.

O estupro morreria nos escaninhos da Polícia de Santa Catarina, não fossem um blogueiro, o Mosquito, do Tijoladas Mosquito, e a Rede Record.

Reportagem de ontem do Domingo Espetacular revelou que havia um terceiro adolescente na cena do crime.

Revelou também que havia uma mulher, além da ex-mulher do dono da RBS, na cena do crime: essa segunda mulher passou maquiagem no pescoço da estuprada.

Para esconder um hematoma.

E revelou que havia um homem com uma tatuagem no braço, que sugeriu à menina estuprada que inventasse uma boa história para o pai.

O crime produziu alguns fatos políticos relevantes.

Primeiro, destacou a covardia do Governo tucano de Santa Catarina, liderado por um varão de Plutarco, Leonel Pavan, que reassumiu a presidência do PSDB no Estado e ali coordenará a campanha do Serra.

A Polícia do tucano demorou a apurar os fatos, se esqueceu de pedir exames cruciais, e não apreendeu as fitas das câmeras de vigilância do prédio onde mora o filho do dono da RBS.

E não quis saber, até agora, do terceiro adolescente na cena do crime, da segunda mulher e do homem tatuado.

Quem é esse terceiro garoto ?

Também é de família poderosa ?

Ele também estuprou ?

O homem tatuado fazia o que ali ?

Participou do estupro ?

E a segunda mulher, a maquiadora, de onde surgiu ?

São todos cúmplices de um crime, ou criminosos.

O segundo aspecto relevante da história, depois da covardia do governo tucano, é o poder da família Sirotsky, os donos da RBS e afiliados da Globo no Sul do país.

Não fossem a Record e o Mosquito, os Sirotsky tinham abafado o caso.

É a opinião de cerca de 20 pessoas que entrevistei na frente do Mercado Municipal de Florianópolis, na ultima quarta-feira.

Me disse uma senhora negra: se fosse o meu filho, negro, já teria sido chamado de favelado e traficante e estava na cadeia.

A cadeia para menores pobres de Florianópolis é um horror.

Uma masmorra, de onde os menores fogem em massa.

O filho do delegado e o do dono da RBS estão em casa.

Por fim, esse sinistro episódio – que a Globo e o PiG (*) solenemente desconsideram – mostra a força da internet.

O Mosquito detonou a RBS, a que chama de “família Stuprotsky”.

É por isso que o Daniel Dantas, o Eduardo Azeredo, o Marco Maciel e um desconhecido deputado comunista do Amazonas querem fechar a internet brasileira.

Clique aqui para ler “Google derrota governo comunista da China”.

É porque a internet, gente como o Mosquito, detonou o monopólio que eles controlavam.

O Serra, por exemplo.

Bastava dar três telefonemas para controlar a mídia brasileira.

Para o Rupert Marinho, para o “seu” Frias e para o Ruy Mesquita.

A Abril vinha no rolo, porque o Robert(o) Civita nunca fez parte do clube.

Em 15 agradáveis minutos ele abafava o estupro de Santa Catarina.

Agora, é um pouco mais difícil.

O Serra tem que ligar para muita gente

Para o Mosquito, não adianta.

Porque foi ele quem detonou a credibilidade do presidente dos tucanos de Santa Catarina.

O mal já está feito.



In dubio pro men: showrnalismo, misoginia e futebol

De tempos em tempos, UM crime brutal alimenta as manchetes da mídia brasileira, causando efêmera comoção popular e despertando uma sede de justiça tão grande quanto a de vigiar e punir os assassinos dentro de nós mesm@s. Porém, ao contrário da sentença de condenação, proclamada pelo tribunal-midiático-popular antes mesmo do fim das investigações dos casos Isabela Nardoni e Susane von Richthofen, o caso Eliza Samudio conta com uma testemunha muito relevante a seu favor: o “machismo blindado” pela aliança entre capitalismo e patriarcado.

Mal a pauta da gravidez da modelo Eliza Samudio surgiu na mídia, fez-se coro para taxá-la de prostituta, maria-chuteira e oportunista, enquanto ela tentava provar a paternidade de Bruno Fernandes, goleiro do Flamengo. Até um filme pornô do qual Eliza teria participado surgiu à tona. Ela já havia registrado queixa de agressão contra o goleiro, e, em outubro de 2009, a delegada responsável pela Delegacia de Atendimento à Mulher de Jacarepaguá (RJ) pediu à Justiça medidas de proteção para a jovem. Em entrevista ao Jornal Extra, descreveu as ameaças. Oito meses depois, ela desapareceu, sem que qualquer providência houvesse sido tomada.

Quando o desaparecimento e a suspeita de assassinato voltaram a colocá-la em evidência, as revistas Veja e Isto É, em sintonia com a Rede Globo e com outros tantos veículos de comunicação, também usaram-se do argumento da desqualificação da jovem para dar seu veredito in dubio pro reu. Na capa da Isto É, a foto de Eliza em pose sensual elimina qualquer possibilidade de discurso a seu favor. Já na Veja, as palavras-chave “orgias”, “traição” e “horror”, deixam semioticamente explícita mensagem de igual teor, a qual nós da Marcha Mundial das Mulheres tratamos por mercantilização do corpo e da vida das mulheres.

A aliança machista logo se articulou para defender o jogador repetindo episódio ocorrido com o próprio Bruno em março desse ano, quando indagou, em defesa do amigo e colega de trabalho Adriano: “Quem nunca saiu na mão com a mulher?”. Como não poderia ser diferente, no Twitter, a rede social do momento, logo o nome de Eliza constava entre as palavras mais citadas, e, reflexo dessa aliança, a maioria continha condenações moralistas e piadas sexistas.

Mas o que parece ter passado despercebido é que o tópico deveria ser Bruno, e não Eliza. A culpa é do estuprador, e não da mulher que estava de saia, tampouco da saia de Geisy Arruda. A questão não é o comportamento sexual da moça – que, convenhamos, também não engravidou sozinha – e sim o comportamento violento do goleiro. Mas Bruno já está absolvido pela mídia e pelo povo. No Programa “Mais Você” dessa sexta (9), exaltava-se a origem humilde do rapaz e as boas ações realizadas por ele na comunidade, nos levando a pensar que “ele não é tão mau assim, vai”. Somam-se a isso o depoimento de crianças dizendo que sonham em serem jogadores de futebol profissionais e o quanto ficarão decepcionadas se Bruno for culpado; e a entrevista, em clima familiar, com Lúcio, jogador da Seleção Brasileira, mostrando como é um bom pai e marido.

As investigações conduzem à incriminação do jogador e de sua trupe de amigos-primos de apelidos e tatuagens estranhos. No entanto, a conclusão do inquérito pouco importa quando o assunto é violência de gênero. Os juízes da comunicação e boa parte do júri popular brasileiro, sejam eles rubro-negros ou não, há muito já deixaram a rivalidade e as evidências de lado em prol da manutenção da tal aliança. No fundo, Bruno não pode ser condenado, porque representa o futebol-além-do-bem-e-do-mal. Puni-lo publicamente seria desvelar que a violência contra a mulher existe, e que os todo-poderosos-boleiros, além de baterem em prostitutas e patricinhas, também assassinam brutalmente mulheres com quem tiveram um filho. O caso também desvela outra cruel realidade: a rede de prostituição alimentada pelo mundo do futebol multimilionário. As tais “festas de jogadores”, nas quais são contratadas dançarinas, atrizes pornôs e prostitutas, muitas das quais acabam vítimas de agressão física, são apenas uma faceta da indústria do sexo, que levou 40 mil prostitutas à África do Sul, só no período da Copa do Mundo de 2010, e que movimenta, por ano, de 5 a 7 milhões de dólares.

No país em que uma mulher é violentada a cada 15 segundos, e dez mulheres são assassinadas por dia, as vítimas de agressão e o movimento feminista lutam para que a Lei Maria da Penha seja, de fato, cumprida, e para que, um dia, possamos viver em um mundo livre de machismo e de violência.

Por: Bruna Provazi begin_of_the_skype_highlighting end_of_the_skype_highlighting, militante da Marcha Mundial das Mulheres - São Paulo

terça-feira, 6 de julho de 2010

A copa do mundo e a prostituição

O processo de preparação para a Copa do Mundo trouxe para a África do Sul o debate da descriminalização e regulamentação da indústria do sexo. O país sede do mundial esperava receber neste período cerca de 40 mil prostitutas dentre meio milhão de visitantes que devem passar pela copa até o final.

Na Alemanha, em 2006, não foi diferente, com a indústria do sexo legalizada desde 2002, o país se preparou para a copa com a construção de estádios, hotéis e luxuosas casas de prostituição, acreditando os investidores que futebol e sexo caminham juntos.

O projeto de lei que previa esta regulamentação da prostituição na África do Sul não foi adiante. Porém, nos argumentos das entidades defensoras desta causa estão a forte discriminação sofrida pelas prostitutas no país, uma vez que, com a ilegalidade da prostituição, esta mulheres não podem contar com o apoio de nenhuma instituição pública, seja a polícia, em caso de violência, ou o serviço de saúde, para prevenção e tratamento de DSTs, por exemplo.

O fato é que criminalizar as mulheres não é mesmo o caminho, muito pelo contrário, elas precisam de todo um suporte do Estado para a garantia de uma vida digna, com distribuição de renda, acesso aos serviços públicos como saúde e educação e políticas públicas para construção de sua autonomia financeira.

Porém, as mulheres não são as verdadeiras beneficiadas com a prostituição. Tais medidas visam claramente a defesa sanitária dos usuários da prostituição, dado os altos índices de HIV na África do Sul.

Além disso, precisamos considerar que a prostituição se torna uma atividade cada vez mais rentável para os capitalistas, esta regulamentação tem como efeito estimular o crescimento da indústria do sexo. Segundo o Parlamento Europeu, a indústria sexual ilegal realiza, por ano, mais dinheiro do que todos os orçamentos militares do mundo juntos (5 a 7 mil milhões de dólares) e cerca de 4 milhões de indivíduos, principalmente jovens mulheres, são anualmente transportadas dentro de um mesmo país e entre países com o objetivo de serem exploradas sexualmente.

Mulheres oriundas de países subdesenvolvidos são as maiores vítimas desta exploração. Vivendo em situação de pobreza absoluta, com baixa escolaridade, empregos precários, elas tornam-se presas fáceis para os aliciadores e acabam encontrando na prostituição uma alternativa para escapar da miséria a que estão submetidas. É a manutenção das pessoas na miséria que garante o fornecimento de meninas para o mercado do sexo. Por este motivo, a prostituição não pode ser encarada como uma opção individual das mulheres, sem considerar as condições de vida que a elas foram oferecidas.

A próxima copa do mundo será no Brasil, o debate da regulamentação da prostituição já é ventilado por algumas entidades da sociedade civil, setores do governo e do parlamento.

O fato é que a Copa do Mundo está diretamente atrelada ao turismo sexual, atividade que tem raízes principalmente na relação entre turismo e populações carentes, já que vivemos em um modelo econômico perverso e injusto que visa exclusivamente o lucro de poucos e não se importa com a vida das mulheres. Por isso, precisamos ficar atentas para não deixarmos que a pressão dos investidores fortaleça uma posição favorável à legalização da indústria do sexo no Brasil.

por Verônica Maia, militante da Marcha Mundial das Mulheres no Ceará.